quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

AMA - (Abrigo Metamorfose Ambulante)

Que realização em 2009!!!
Sempre quis que os animais daquele casebre escuro, no fundo do mangue, que dividiam um espaço de chão batido de terra entre tocas de guaiamuns tivessem o mínimo de conforto que dignificasse suas existencias. Era muito triste e eu chorava quando ia alimentá-los porque via serenidade e resignação nos olhinhos deles.....E eram felizes, viviam na companhia de um Sr chamado Romeu de aproximadamente 65 anos, magro, tez amarelada, desnutrido, pés inchados de tanto beber, que literalmente na escuridão do casebre cheirando a fumaça do fogão a lenha, entoava canções melancólicas ora ponteadas por um violão o qual dedilhava com esmero e quando bebia cachaça para espantar a solidão, deixava que um radinho de pilhas animasse o ambiente, e quando eu chegava, presenciava a cena....Todos deitadinhos em buracos cavados na terra (talvez inspirados por guaiamuns), aguardavam a única refeição diária ouvindo o som do rádio sintonizado numa AM onde o falante radialista entre notícias e propagandas, deixava rolar músicas dos anos 70 e me lembro de uma que num mix de saudosismo e compaixão me fez chorar...MEDO DA CHUVA de Raul seixas. Olhei pela fresta duma suposta janela, e chorei ainda mais....Sr Romeu, recostado entre caixas, mala velha,roupas jogadas, utensílios de casa espalhados e de cabeça estirada para trás com a baba escorrendo, havia afogado as mágoas e a solidão numa garrafa de cachaça enquanto quatro cães e tres gatos no enlevo da doce ilusão o esperavam para desfrutar da sua companhia e assim findava o dia e vinha a escuridão total....o breu! Assim os dias se passavam e minha agonia aumentava me colocando no lugar de todos naquele reduto inflado de desgosto e desconforto......(amanhã continuo a história)!!!!!!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário